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Saturday, March 10, 2007

 
Estilo Carlos Pitta: no topo da náutica,
automobilismo e turismo

Entrevista a Carlos Pitta, ex-director geral da ACP Viagens, por Humberto Ferreira


A entrevista decorreu a bordo do Quo Vadis I, na doca de Belém, numa maravilhosa tarde de Março. A visita ao veleiro foi altamente satisfatória. Foram horas a avivar recordações, emoções e amizade q.b. As respostas exprimem uma incomparável experiência prática e analítica. Uma boa introdução para um manual de 'cruzeiristas'.

Conheci-lhe três paixões. Qual a mais persistente?
A vela. Comecei a velejar com o meu pai com oito anos, a bordo do veleiro Argus. Depois corri em sharpies de 9m2 no Clube Naval de Cascais e ganhei o gosto pelas medalhas. A primeira numa regata de aniversário da Associação Naval de Lisboa. A internacionalização em Valência, num torneio de snipes em representação do Sport Algés e Dáfundo. Regatas em flying dutchman e dragões. A primeira vitória oceânica está inscrita no troféu Walter Brasch, numa regata a Sesimbra no Canção do Vento. Fui navegador dos iates Patricia e Pearl Dragon até que em 1999 comprei o veleiro Quo Vadis I, alvo e refúgio das minhas evasões marítimas a Cascais, Tejo acima, ou até mais a Sul no Verão.

MÁQUINAS DE CORRIDAS
E as outras 'inclinações'?
Nos anos 60 comecei a partilhar a vela com o automobilismo. Fui praticante de ralis (Camélias, Monfortinho, Figueira da Foz ...), em representação do Club Arte e Sport. Entretanto, sendo, na época, o ACP a autoridade desportiva nacional, delegada da FIA - Federação Internacional do Automóvel - César Torres dinamizou e organizou provas que foram uma referência no automobilismo internacional, constituindo uma equipa de comissários. Tive o privilégio de integrar este núcleo, entre outros, no Rali Internacional TAP, depois Rali do Vinho do Porto e Rali de Portugal. Assim como os Grandes Prémios de Portugal em Fórmula 1, no autódromo do Estoril.

VOCAÇÃO FIRME PARA VIAGENS
Falta falar de turismo?
Entrei para o sector em 1973. Trabalhava numa multinacional e fui a Nova Iorque numa promoção da Mundial Turismo. Em Nova Iorque pediram-me para orientar os passageiros de um autocarro. Gostei e também gostaram do meu contributo. À volta convidaram-me para o departamento de grupos. Fiquei assim viciado no Turismo e o meu amigo António Baptista foi o 'culpado'. Depois ingressei na Citirama como chefe de agência, onde ganhei o primeiro TopTen de vendas da TWA.
Em 1977, o grupo Lufrantur tomou a agência Havas e desafiou-me para recuperar a empresa. Aceitei o lugar de director comercial e não me arrependi.
Entretanto, César Torres projectou dinamizar a secção de viagens do ACP e desafiou-me mas, dado o compromisso com a Havas, só aceitei, em Janeiro de 1985, com a cargo de director geral.
Comecei com cinco colaboradores e 22 anos depois reformo-me com a marca ACP Viagens consolidada, com três lojas, uma super equipa de 30 técnicos, uma colecção de TopTen anuais da TAP, TWA, Varig, TopOne dos cruzeiros da Classic e Clube Mais da Melair, e um 'Protagonista do Mar' da Costa Cruzeiros. O ACP Viagens tem sido líder em vendas e promoção de cruzeiros, graças a um excelente plantel de especialistas neste nicho, aos associados satisfeitos com a qualidade ACP, e ao apoio das várias direcções do Clube com quem tive o privilégio de colaborar.

LISBOA: TERMINAL DE CRUZEIROS
Vamos falar de cruzeiros?
A indústria de cruzeiros tem beneficiado de sucessivas melhorias e crescido como nenhum outro segmento. Com a introdução de novos e maiores navios. Mais opções de itinerários e cruzeiros temáticos, entre três e 15 noites. Mais entretenimento e actividades desportivas a bordo. Novos conceitos de cruzeiros de férias e de incentivos, logo maior segmentação, maior capacidade em cada cruzeiro e mais vendas.

E como observa o mercado português?
Em 1992, em Portugal venderam-se cruzeiros a cerca de 4000 passageiros. Dez anos depois foram 20 mil. Em 2010, espera-se que sejam 50 mil. O maior problema é a logística que importa montar pela falta de cruzeiros com partida e/ou chegada a Lisboa. Mas há boas notícias, além do novo terminal de cruzeiros a construir em Santa Apolónia, a Costa anunciou um itinerário regular por Lisboa, como tem feito há anos pelo Funchal. É natural que outras companhias lhe sigam o exemplo. Tem havido apenas algumas dezenas de escalas para se embarcar passageiros em Lisboa, incluindo os navios da Classic International Cruises de Georges Potamianos, o armador do Funchal, Princess Danae, Athena e Orion, todos com bandeira portuguesa. Penso que a RCI e a MSC terão também uma palavra a dizer. Mas é preciso captar mais turn-arounds.

CONCORRÊNCIA INDEFINIDA
Sentiu problemas na distribuição de cruzeiros?
Sendo um produto que dá mais trabalho a estudar, vender e promover, haverá duas dúzias de agências e operadores especializados, apesar das múltiplas vantagens e dos armadores continuarem a praticar boas margens de comercialização. Outro factor positivo é a publicidade boca-a-boca entre a maioria dos clientes e amigos. Por outro lado, as empresas aéreas têm vindo a cortar comissões, forçando as agências a cobrar taxas de reserva, emissão e alterações por cada acto pedido pelos clientes. É o único negócio em que os fornecedores se recusam a pagar os custos da distribuição.

Quais as diferenças entre a venda de uma passagem aérea e um cruzeiro?
No avião vende-se um assento disponível em rotas com vários voos ao dia e várias companhias nas rotas mais populares. O cliente do médio curso cada vez se interessa menos pela companhia, modelo do avião ou aliança em que viaja, pois os aviões operam cada vez mais como autocarros colectivos aéreos. Obviamente que não me estou a referir aos clientes corporate.
Enquanto o pacote dos cruzeiros vendido em Portugal engloba a escolha criteriosa do navio, companhia, camarote e deck (exterior ou interior, a meia-nau, à popa ou à proa, a estibordo ou a bombordo), assim como do restaurante e das excursões nos portos de escala, mais a reserva da viagem aérea, a dormida e os transfers para o/s porto/s de embarque e desembarque - seja em Barcelona, Génova, Veneza, Pireu, Amsterdão, Southampton, Dover, Miami ou Vancouver.
A diferença maior é que para se manter a reserva num cruzeiro é cobrado um depósito e o saldo é pago com mais antecedência. Aspecto negativo para o cliente luso, habituado a decidir à última hora e a pagar mais tarde.


Os portugueses não podem continuar
a ver os cruzeiros passar ao largo da costa!


Quais os aspectos positivos do nosso mercado?
A oferta tem, quanto a mim, cinco pontos favoráveis: qualidade crescente; elevado índice de satisfação do cliente; 40% a 60% dos clientes repetem; um pacote de férias completo, incluindo visitas panorâmicas e culturais a países ou regiões diferentes todos os dias; num belo hotel flutuante com pensão completa e animação garantida, com discoteca, grandes espectáculos musicais, festas, spa, casino, etc. Sem esquecer a boa rentabilidade. As agências podem vender grupos até centenas de passageiros.
Os armadores também beneficiam pela crescente oferta de navios novos e maiores, colocando a bordo mais bares, maiores spas, casinos, lojas e galerias de arte, mais restaurantes alternativos sujeitos ao pagamento de suplementos, maior oferta de vinhos e serviços mais personalizados nas suites, camarotes e restaurantes. Enfim, um cruzeiro pode constituir a melhor viagem de férias na vida de um casal, família ou grupo de amigos ou colegas.

DIFICULDADE NA FORMAÇÃO
E quais os pontos fracos?
Destaco a formação específica. Apenas a Melair - sob a direcção de Francisco Teixeira, que tem uma intuição rara, destacando-se nas relações internacionais com directores dos armadores - é pioneira na formação. Compilou um manual precioso a que chamou Guia do Especialista em Cruzeiros. Este ano, o operador Nortravel também fez formação, relativamente às vendas da MSC, produto da visão de António Gama.
Pena que, por vezes, o profissional volte para o balcão sem se lembrar mais de falar aos seus clientes sobre as vantagens dos cruzeiros, incentivando-os a experimentar, seja para uma reunião familiar, de amigos, aniversário, lua-de-mel, cruzeiro temático ou incentivo. Só nas agências mais especializadas, há vendedores experientes neste nicho.
Além disso, há a desvantagem da situação periférica do porto de Lisboa, em relação ao Mediterrâneo e ao Norte da Europa - os dois pólos europeus mais usados nas rotas de cruzeiros. É preciso incentivar a promoção conjunta da tradicional operação nas ilhas atlânticas (Açores, Madeira e Canárias), Marrocos, Algarve, Lisboa, visando incluir Portugal num terceiro pólo de cruzeiros europeus.

MARCA DE CRUZEIROS ACP
Entre as metas realizadas qual a que mais o satisfez?
Certamente o êxito dos cruzeiros ACP. O ACP Viagens reactivou em 2003 (ano do centenário) os cruzeiros ACP, com a Rota dos Príncipes no Mediterrâneo, a bordo do Splendour of the Seas. Seguiu-se em 2004 o cruzeiro ACP aos Fiordes da Noruega no Braemar da Fred Olsen; em 2005 o cruzeiro ACP às Ilhas Gregas e Istambul no Galaxy; e em 2006 ao Báltico e Escandinávia no Century.

Mas houve cruzeiros da ACP Viagens com mais passageiros?
Nos últimos anos, o ACP embarcou centenas de passageiros em cada travessia Lisboa/Brasil do Island Escape - romagem dos saudosos das viagens transatlânticas para a América do Sul, mas agora com muito êxito e em ritmo de cruzeiro, com escalas na Madeira, Canárias, Cabo Verde, Recife, Salvador, Rio, Búzios e Santos. Também se vendem cruzeiros seleccionados, destacando-se o da Celebrity Cruises à Patagónia e Falkland, em Fevereiro/Março, acompanhado por delegados ACP.

DADOS HISTÓRICOS
O ACP, aliás, não foi o pioneiro de fretamentos de paquetes?
Tudo começou em 1933 com a organização do 1º. cruzeiro ACP a Marrocos e Madeira, a bordo do Quanza fretado à antiga Companhia Nacional de Navegação. Em 1934 foi ao Mediterrâneo no Carvalho Araújo, fretado à Empresa Insulana de Navegação. Uma curiosidade: o preço da classe luxo neste cruzeiro era de 2600 escudos por pessoa. E em 1935 de novo no Quanza, de Lisboa para Leixões, Rouen, Antuérpia e Tilbury.
Entretanto, no final dos anos 70, o ACP fretou o Funchal à Empresa Insulana de Navegação, para organizar vários cruzeiros. Foi esta bela experiência que herdei quando, em 1985, fui dirigir a ACP Viagens.

Quantos cruzeiros fez?
Não sei. Não fiz um registo. Mas calculo que cerca de 40 e assisti à inauguração dos mais modernos. Naveguei nos três maiores paquetes: Grand Princess da Princess Cruises, Queen Mary II da Cunard, e Freedom of the Seas da Royal Caribeean. E, não esqueço, o cruzeiro no veleiro Star Clipper no Mediterrâneo - navio de três mastros para 180 passageiros e 70 tripulantes - onde a navegação à vela é espectacular.

Qual foi o executivo de cruzeiros que mais o impressionou?
Além de Georges Potamianos, pela proximidade e amizade, destaco o Piero Luigi Foschi, presidente da Costa, da Aida e agora da parceria Carnival/Tui. E também Helen Beck, directora de vendas da RCI para a Europa - profunda conhecedora do mercado.

FUTURO PROMISSOR DOS CRUZEIROS
Que planos tem?
Entendi que chegou a altura de o ACP Viagens seguir o seu caminho sem a minha orientação. Existem outros desafios pessoais a que gostaria de dedicar mais atenção, pelo que deixei de exercer o cargo de director geral, iniciado em 2 de Janeiro de 1985, sempre apoiado por uma excelente e talentosa equipa de profissionais.
Participo com assiduidade nas sessões da Academia de Marinha. Sou sócio do Clube Naval de Cascais, Aporvela, Associação Nacional de Cruzeiros e Clube de Oficiais da Marinha Mercante. Costumo proferir palestras náutico-históricas (a circum-navegação comparada de Magalhães e Drake, Sagres - escola e os navios, etc.) e fui desde 2000 vice-presidente do Travel Agency Working Group da Comissão de Turismo da FIA, em representação do ACP.
Além disso, a minha formação náutica em navegação e comunicações e a licença de 'ocean skipper', constituem um desafio aliciante. Em finais de 2006 fui convidado a integrar a secção de Turismo da Sociedade de Geografia. Entretanto, este ano projecto mais um cruzeiro ao Mediterrâneo ... mas a bordo do Quo Vadis I.

Uma mensagem final?
Em 2002 os cruzeiros atraíram 11,2 milhões de passageiros. Em 2010 a previsão aponta 17 milhões - um crescimento de 52% em oito anos. O mercado americano cresce a 10% ao ano e o britânico 6%. Entretanto, o alemão, espanhol e italiano; o latino americano e o do médio oriente são também mercados promissores. A Costa já posicionou um navio no Dubai. Ora os portugueses não podem continuar a ver os navios passar ao largo da costa! Também desejo que a minha experiência no turismo e nos cruzeiros possa servir de estímulo para as gerações mais jovens que agora tomam conta do leme e do rumo!

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Thursday, March 01, 2007

 
SOBRE O ESTUDO DE JOSÉ SOBRAL E JORGE VALA:
IDENTIDADE LUSA - INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Integrado no PROGRAMA SOBRE ATITUDES SOCIAIS DOS PORTUGUESES
- LISBOA - 2007/03/01 (Tema do Dia: Ref. DIÁRIO NOTÍCIAS & TELEVISÃO)

QUEM SOMOS? COMO CIDADÃOS CONTEMPORÂNEOS?
EM PORTUGAL, NA EUROPA, NO SISTEMA DE GLOBALIZAÇÃO EM CURSO?
Por Humberto (16584 caract)

Hoje, a Comunicação Social de Lisboa (diária e televisão) destaca o estudo de José Sobral e Jorge Vala, do Instituto de Ciência Sociais (ICS), sobre a Identidade Nacional (prefiro lusa ou portuguesa), com títulos deprimentes como: "Democracia, Segurança Social e Economia não Orgulham Portugueses", "Maior Orgulho no Passado", "Patriotas?" ou "Menos Receptivos aos Imigrantes que os Suíços".
Uma preocupação acrescida aos nossos problemas individuais e colectivos. Afinal, autores e jornalistas avisam-nos: somos menos patriotas e mais nacionalistas!
O estudo é resultado de um inquérito realizado em 40 países e aplicado em 2004. A demora da sua divulgação dá para atestar a demora nas conclusões agora divulgadas. A conhecida máxima, aplicada nos países mais avançados do processo de globalização em curso "Time is Money", não abrange os nossos investigadores das ciências sociais!
Os resultados são apresentados em forma da média dos dados recolhidos junto dos cidadãos questionados se orgulharem, ou não, de uma selecção de factores comuns aos países abrangidos no estudo. Mas não se trata, porém, de um estudo comparativo ponderado. Pelo menos no que respeita ao resumo divulgado pela C. Social.
FACTORES NEGATIVOS
Com base no texto da jornalista Céu Neves do DN, os quatro principais factores negativos desta tentativa de caracterização da alma portuguesa contemporânea são: a falta de orgulho na segurança social, economia, democracia e desigualdades sociais (problemas que falta desenvolver e solucionar, 33 anos após a institucionalização da liberdade democrática em Portugal - acrescento - o que é um atestado de incompetência a todos os líderes políticos deste prolongado período, sem excepção).
Lamentavelmente, continuamos na mesma, com governantes obstinados, inflexíveis, intolerantes e superficiais, seja na aplicação da respectiva ideologia política, seja no pragmatismo de soluções experimentais, ou no antagonismo pessoal entre líderes e apaniguados partidários, aliás, bastante semelhantes aos exemplos do crescimento de desacatos por parte dos membros das claques de futebol.
Também se deve admitir que é raro o país em que os cidadãos estão satisfeitos com os complexos problemas básicos existentes: no ensino, saúde, justiça, habitação, emprego, salários mínimos e médios, poupança, crédito, segurança, ambiente, trânsito, estacionamento e obras públicas.
FACTORES POSITIVOS MAL DATADOS?
os factores positivos apurados, pelo contrário e não obstante os atentados e abandonos a que têm sido votados, durante o referido período, o ensino da nossa Língua, História, Cultura, Cidadania e Identidade, são quatro em um: ou sejam, os feitos alcançados pela liderança, valentia, talento e perseverança nos Descobrimentos, Desporto, Artes e Literatura. Como se fossemos uma potência mundial na organização e planeamento, na prática desportiva, na aplicação às artes e letras?
O autor e coordenador José Sobral aponta a explicação sobre "o forte orgulho na História e no passado, pelo apogeu de Portugal na Idade Média e na época da expansão ultramarina, no século XVI" (será gralha?) - ou esquecendo que a epopeia do Infante D. Henrique e da Escola de Sagres se desenrolou no século XV, entre 1419 e 1460 (morreu na Vila do Bispo), quando os navegadores portugueses descobriram Porto Santo (1419), Madeira (1420), Açores (1427), Cabo Bojador (1434), Cabo Branco (1441), Cabo Verde (1444) e Serra Leoa (1460). Com efeito, depois do Infante D. Henrique só Bartolomeu Dias em 1487 (dobrou o Capo das Tormentas ou da Boa Esperança), Vasco da Gama em 1498 (quando chegou à Índia, estabelecendo a primeira rota marítima da Europa para aquele subcontinente), e Pedro Álvares Cabral em 1500 (com a chegada ao Brasil), sob a esclarecida liderança de D. João II, alcançaram notoriedade internacional paralela à visão henriquina 165 anos antes! Portanto tudo no século XV.
Outro dado ignorado no resumo acessível é o facto de Portugal ser um dos Estados mais antigos da Europa, em termos de fronteiras e superfície territorial.
BAIXA AUTO-ESTIMA NÃO ENGANA
Os autores apontam que este orgulho pelo passado se deve, em parte, ao ensino até à exaustão, nas escolas, sobre a época da nossa expansão marítima, porém, sem esclarecer se esta atitude é positiva ou negativa.
Numa primeira análise, trata-se de um paliativo para a baixa auto-estima sobre os restantes factores que compõem o perfil da vida portuguesa contemporânea.
Pessoalmente, não noto neste orgulho natural, relativo à época de ouro da expansão ultramarina portuguesa, qualquer efeito prejudicial, comparativamente com outros povos.
Mas numa análise mais teórica, agora sustentada e divulgada - essa sim até à exaustão - por historiadores contemporâneos, os feitos de D. Henrique e dos navegadores que frequentaram, estudaram ou praticaram na sua tertúlia (seja a escola ou centro de reflexão) localizado no Algarve (entre Lagos, Vila do Bispo e Sagres), devem ser cientificamente subalternizados, na falta de documentação comprovativa e na comparação com expedições de outros reinos, nomeadamente, de Castela, Inglaterra, Flandres, Génova e Veneza. Muitos chegam ao ponto de salientar a ausência de um provedor dos direitos humanos (na Renascença) integrado no estado-maior das nossas expedições marítimas. Pior que esta obsessão doentia sobre a defesa dos legítimos interesses dos tripulantes e soldados contratados no séculos XV, só a ameaça corrente de termos de pagar ao quilo, a nova taxa sobre o lixo que produzimos nas nossas casas - também outra notícia do dia de hoje!
Faltou na época henriquina, cronistas e historiadores a acompanhar o dia-a-dia dos protagonistas destas epopeias, que tivessem a preocupação e o dever de nos legar os textos que Fernão Mendes Pinto, e outros, depois nos deixaram sobre as posteriores expedições e feitos lusos na colonização de outros povos e civilizações, do Oriente à América Latina!
É como hoje organizar eventos culturais e oficiais sem cuidar da gravação das intervenções, fotos ou registos vídeo!
Mas voltando ao cerne da questão, creio que a Ciência Histórica e, em especial, a Ciência Social não devem contribuir mais para baixar a auto-estima nacional! Já bastam os ministros actuais!
Os nossos antepassados poderão não ter ganho as batalhas nem as riquezas
que os Soberanos ambicionaram, mas enchem-nos de orgulho. SIM. Quer os actuais investigadores tentem ou não depreciá-los! Em vez de procurarem em arquivos estrangeiros e entre historiadores internacionais, alguma nova prova das lendas (agora condenadas) mas que chegaram aos nossos dias. Sempre ouvi dizer, que não há fumo sem fogo! Ou nem todos são para tudo, nem tudo a todos se diz!
TIROS NOS PÉS
O que faltou apontar neste estudo do ICS é a nossa tendência endémica para dar tiros nos próprios pés! Experimentem frequentar uma escola destes países para se aperceberem do que é estudar até à exaustão as matérias referentes aos feitos dos respectivos antepassados, seja no domínio da História, Artes, Literatura, Ciência, Política ou Desporto.
Tenho essa experiência pessoal no Reino Unido. O primeiro facto relacionado com a História de Portugal que encontrei foi a construção defensiva das Linhas de Torres (Vedras), na região de Lisboa, e das derrotas infligidas, ao comando do exército anglo-português sobre as tropas napoleónicas, no início do século XIX. De resto, passa-se levemente, nos manuais e sumários escolares, pelo Infante D. Henrique por ser filho de D. Filipa de Lancastre, da casa real inglesa da época, e por Vasco da Gama, por ter aberto a rota da Europa para a Índia, dominada depois durante séculos pela coroa inglesa.
VULTOS E OBRAS COM PROJECÇÃO INTERNACIONAL
Uma coisa é certa. Os feitos portugueses nas artes, literatura e desporto são, no conjunto, bastante inferiores, qualitativa e quantitativamente, aos de países como a Inglaterra, França, Alemanha, Itália, Espanha, Holanda e até a Bélgica, entre outros.
Vultos lusos nas artes temos três ou quatro: Vieira da Silva, Amália, Paula Rego!
Património arquitectónico nas novas 7 Maravilhas do Mundo: sem nomeações. Mas monumentos com valor internacional: Torre de Belém, Palácio Real da Pena, Mosteiro da Batalha, Mosteiro dos Jerónimos, Aqueduto das Águas Livres, Convento de Mafra, Castelo de São Jorge, e Fortaleza de Sagres (a merecer uma intervenção e geminação com Cabo Kennedy - os dois sítios épicos da exploração dos oceanos e do espaço).
Da arquitectura contemporânea não arrisco qualquer outro destaque, além das pontes sobre o Douro (D. Luís e Arrábida), Tejo (25 de Abril e Vasco da Gama), as Torres das Amoreiras e o conjunto urbano do Parque das Nações em Lisboa. De resto nem hotéis nem solares, nem centros comerciais ou culturais, nem cidades ou edifícios públicos merecem, em minha opinião, ter prémios internacionais.
Vultos na literatura temos Camões, Padre António Vieira, Pessoa, Saramago!
Vultos com expressão global no desporto: Eusébio, Figo, Cristiano Ronaldo, Mourinho, Rosa Mota e, brevemente, espero, Vanessa Fernandes!
Vultos na política com dimensão extra fronteiras: Salazar, Mário Soares!
Vultos históricos, sim. Além de D. Henrique e D. João II já referidos, temos com alguma dimensão comparativa, D. Afonso Henrique (o conquistador), D. Manuel I (dinamizador do estilo manuelino), D. João V (pelo fausto da corte na sua época e pelas obras monumentais lançadas), D. Luís, Marquês de Pombal e Duarte Pacheco (ambos pelas obras públicas realizadas), e, infelizmente pouco mais ... Desanimador para mais quase nove séculos de História!
Feitos singulares também há poucos. Fui procurar, sem sucesso, no World Almanac and Book of Year Facts e nem encontrei os voos de Sacadura Cabral e Gago Coutinho à Madeira e ao Brasil (1922)! Muito menos dos restantes pioneiros da aviação lusa! Depois de Salazar e António Ferro, só temos tido governos que têm descurado a promoção exterior da cultura, ciência, indústria e história portuguesa!
Ora se não formos nós a cuidar da divulgação permanente da nossa cultura e da nossa História, quem o fará?
MAPA HISTÓRICO CULTURAL E NATURAL
A revista Visão, com o patrocínio da rede de Viagens Halcon, editou há anos um excelente mapa histórico cultural de Portugal, que poderia ser reaproveitado e constituir, durante os dois/três próximos anos, o melhor desdobrável para a promoção do turismo cultural e natural nos mercados prioritários do PENT - Plano Estratégico Nacional de Turismo, em cooperação com o Instituto Camões, Icep e MNE. Além de dever ser integrado no portal a seguir proposto. São peças informativas como esta que fazem aumentar a nossa auto-estima como Povo com ambição cultural, social, económica e do conhecimento.
Deveria haver, por exemplo, um portal na internet com a Enciclopédia dos Feitos Portugueses e dos Recursos Naturais e Turísticos. Hoje, não há almoços grátis, tudo tem que ser feito com um olhar sobre a cultura e imagem e outro sobre as exportações e divisas. Como fazem os outros países, nossos parceiros e concorrentes!
Vamos em 2011 completar um século da organização oficial do Turismo (iniciada em 1911 com a primeira Repartição do Turismo). Em 2006, a Região Demarcada do Douro completou 250 anos. Produzimos e exportamos vinho do Porto há 250 anos. Alguém soube disto nos nossos principais mercados importadores? Ou seja, França, Inglaterra, Estados Unidos! Mas este estudo do ICS ignorou, mais uma vez, a verdade. Ou seja, outros factores negativos e característicos da personalidade lusa: a preguiça, falta de dinamismo e negligência em excesso dos representantes do Estado e da inércia da sociedade civil!
FACTORES TANGÍVEIS OU NÃO
Governantes, historiadores e investigadores sociais sabem que há factores tangíveis que preocupam mais os cidadãos do que os factores intangíveis ou teóricos.
Por exemplo, um cidadão médio preocupa-se muito mais com as carências diárias nas escola dos filhos; o hospital que fica longe ou está saturado; o tribunal que é lento e demasiado teórico (a legislação prima por confundir o contribuinte médio); os transportes públicos que são caros, pouco frequentes e quase sempre saturados; os preços dos bens alimentares e do lar; a burocracia que nunca acaba (digam o que disserem sobre o Simplex); os salários curtos e estagnados em termos de poder de compra; ou os resultados da jornada de futebol, em que o árbitro prejudicou a sua equipa favorita. Estes são factores tangíveis, ao nível da dona de casa no supermercado; do trabalhador que utiliza transporte colectivo; ou do jovem desempregado que ocupa o seu tempo mais a discutir futebol e não tanto a dirigir-se a empresas que anunciem vagas ou que estejam em fase de instalação ou abertura!
Já o elevado sentimento de ser português ou a eventual degradação da Nação, Democracia, Política Central, Economia, Relações Multilaterais, ou Patriotismo (mesmo quando os nossos automobilistas não resistem a parar e ir observar, ajudar e partilhar os detalhes de qualquer acidente rodoviário, incêndio, roubo ou zaragata de rua) são conceitos que apenas os mais letrados da política, comunicação social ou das instituições discutem!
RESULTADOS INTER-EUROPEUS
Os dados revelados pelo estudo do ICS são algo misteriosos. Por exemplo, 50,5% dos portugueses inquiridos defende que se deve apoiar a nação (um dos conceitos intangíveis) mesmo quando um governo toma uma decisão errada. Acrescenta a notícia que esta resultado é superior a todos, dos 40 povos analisados. Acrescento: é por causa desta tolerância que os sucessivos governos usama e abusam da tomada de medidas erradas para defenderem apenas opções ideológicas, de esquerda ou de direita, conforme os ventos de feição!
Os portugueses colocam-se entre os mais nacionalistas com 3,37 pontos - mais o,28 do que a média europeia!
A média de patriotismo dos portugueses alcançou 2,34 pontos, inferior à média da União Europeia, que foi de 2,71 pontos. Francamente são dados em que faltam outros elementos.
Entre os europeus, os portugueses são os que revelam maior orgulho na sua história. Só foram ultrapassados pela Venezuela (efeito da memória de Simon Bolivar, Libertador dos movimentos anti-coloniais latino-americanos) e Estados Unidos (efeito dos pioneiros da Independência da América do Norte do domínio inglês e do maior sucesso mundial de construção de uma grande potência democrática, económica e militarmente forte, embora constituída apenas em 1776 (há apenas 231 anos) e onde vigora un índice de bem-estar acima da média mundial, garantido pelo American Style of Opportunities for Everyone (também conhecido por Americam Way of Life), ou pelo menos para a esmagadora maioria dos residentes (naturais ou imigrantes legais), pois esse padrão depende mais do cidadão do que da organização. Esta pouca contemplação tem para com os menos aptos, dotados, viciados, criminosos, ou preguiçosos!
IMIGRANTES: SIM, MAS ...
Os portugueses são menos receptivos aos imigrantes que os suíços! Alegam os autores que os portugueses têm uma maior identificação nacional que os helvéticos. Aliás, é um dado conhecido e reconhecido, num país que fala quatro línguas. Mas enquanto na Suíça prevalecem os aspectos simbólicos da imigração (como o status dos que no nosso país dantes tinham "criados"), em Portugal dá-se maior relevância aos efeitos económicos da imigração (designadamente sobre o binómio emprego/desemprego no tecido laboral).
O que não parece ser verdade, à primeira vista, quando se encontra paridade de pessoal estrangeiro/nacional na maioria dos centros comerciais, comércio tradicional (padarias e lugares de fruta, entre outros), barbearias, cabeleireiros, órgãos de comunicação social, escritórios, incluindo nas missas por padres estrangeiros.
Até dá a ideia que metade dos trabalhadores portugueses no comércio estão registados no Fundo do Desemprego, tendo sido substituídos por estrangeiros! Não por falta de mão-de-obra nacional (ainda nem todos os portugueses são licenciados, mestres e doutores, como este governo visa alcançar - não se sabe quando?) mas, simplesmente, porque a mão-de-obra imigrante sai mais barata aos empregadores! E se for ilegal, ainda mais barata fica! E com o Prace, todos ficam descansados, pois os fiscais vão para o Registo da Mobilidade! Vulgo: para a prateleira! Aliás, sendo Portugal um país historicamente ajudado à custa dos seus emigrantes, estes resultados são preocupantes. Nem os autores nem os jornalistas que trataram deste assunto se referiram à nossa ainda grave carência populacional em termos de cultura, civismo e educação comparativa com outros povos. Não precisamos de ser todos licenciados mas, sim, todos profissionalizados!
POSTED BY HUMBERTO ON THURSDAY, 01 MARCH, 2007 AT 20h00 (8 pm) LOCAL TIME

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