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VIDA QUOTIDIANA EM PORTUGAL: QUARTA-FEIRA 29 DEZ. 2006
REVISTA DE IMPRENSA - SEMANÁRIO FOCUS
TÍTULOS:
"O homem que fez a bomba (para o acidente de Camarate em Dezembro de 1980) páginas 122/124 + Caixa "Armas para o Irão" página 125
"Eu fiz uma bomba incendiária para pregar um susto" - Entrevista a José Esteves - pag. 126/28
Press review Wednesday 29 Nov. 2006 - Revista Focus - Lisboa
CHAMADAS E DESTAQUES:
Capa: "José Esteves confessa que Camarate foi atentado.
"Quem era o verdadeiro alvo. De quem partiu a ordem. O que diz o relatório dos desputados.
Pag. 122/23: Esquema da pista e das etapas que levaram à explosão e queda do Cessna.
"José Esteves assume publicamente ter feito um engenho para explodir no avião que caiu em Camarate"
"Não estou nada arrependido. Já aconteceu. Mas julgo que a viúva de Sá Carneiro merece uma indemnização do Estado"
Pag. 124: "Duas semanas antes da bomba explodir, Henry Kissinger visitou Portugal. Exigiu a Lisboa que vendesse armas ao Irão. Amaro da Costa (então ministro da Defesa, ficou agastado com esta imposição"
Pag. 125: "A visita de Kissinger está ligada ai tráfico de armas e às ameaças a Amaro da Costa"
Pag. 126: "Pela primeira vez, José Esteves explica o seu papel em Camarate. Como fez a bomba, Onde a entregou. As suas conversas com Amaro da Costa e como percebeu, naquele dia, que tinha sido usado e enganado"
"Aquilo era um engenho com uma mistura de potássio, açucar e ácido sulfúrico"

DIÁRIO DE NOTÍCIAS
pag. 44 - última: "Sô Zé detido, Zé Esteves reacende Camarate"

Comentário: Era tradição dos oficiais do Exército, Marinha e Força Aérea entregarem a espada e as condecorações aos respectivos comandos quando discordavam de uma ordem injusta, ou de uma política governamental anti-democrática, durante a ditadura salazarista.
Curiosamente, no presente conflito - que opõe os militares ao governo, por causa da quebra de direitos adquiridos em função da sua condição militar; na assistência médica devida aos militares e familiares dependentes, direitos previstos na legislação e mudados a partir de 2007 à conta dos sacrifícios que TODOS os portugueses são chamados a fazer; assim como ao não cumprimento de pagamentos de apoios especiais contemplados a favor dos veteranos e deficientes da guerra colonial (inexplicavelmente com anos de atraso) e aos cortes e congelamentos nas carreiras, sempre decretados em nome da eterna situação de contenção das despesas públicas - ainda não vi um único militar no activo, reserva ou reforma, entregar um dos seus preciosos símbolos representativos do estatuto agora humilhado, ignorado e menosprezado.
O que me apetece é entregar o meu passaporte de português! Perante este caso de um concidadão à solta, o qual, prescrito o prazo do crime, vem a público confessar ter sido o artífice da bomba artesanal alegadamente usada na queda de uma aeronave civil que transportava o então Primeiro Ministro, acompanhado pelo ministro da Defesa Nacional e outras figuras públicas - talvez no episódio mais trágico e dramático da vida política portuguesa nos últimos 26 anos. Agora, só falta apurar quem foi o mandante!
Seria esta a minha reacção cívica e que só não concretizo pela minha avançada idade. Um acto simbólico mas demonstrativo que não sinto quaisquer afinidades com os intevenientes neste processo - pelo contrário repudio todo o comportamento dos responsáveis públicos e civicos neste processo arquivado para que a culpa em Portugal continue descaradamente e morrer solteira! Ressalvo a determinação de Augusto Cid e Ricardo Sá Fernandes e de todos os que nunca acreditaram na bondade da tese oficial e simplista de acidente. Não quero nem posso conviver com os políticos, comissários parlamentares (que instruiram e depuseram nos inquéritos sobre Camarate), titulares e membros do M.P., P.J. e outras entidades responsáveis pelos respectivos procedimentos legais instaurados sem conclusão.
E é uma vergonha como deixaram à solta um bombista - já ligado ao MDLP, movimento de extrema direita que nos anos que se seguiram a 1974 aterrorizou o País, especialmente nas regiões Norte e Centro - e que, passados 26 anos, sob a capa de vidente e mestre de ocultismo, como modo de vida, é suspeito de realizar operações destinadas a espalhar o terror por alegada encomenda de mandantes, inclusivamente ameaçando de saúde pública e destabilizando o interior de instituições públicas e privadas. Assim como do uso e posse de arma proíbida e de ameaças a terceiros.
Ora não teria sido melhor para ele? Para a polícia e justiça lusas? Para as instituições sob suspeita durante estes longos anos - incluindo os governos à época das investigações (morrem dois membros do governo e entregam tudo aos múltiplos interesses partidários e outros em jogo?). Isto revela uma ingenuidade ou um receio indesculpáveis? E para a segurança da sociedade em geral não teria sido curial exigir e fornecer os meios indispensáveis para que as investigações tivessem sido aprofundadas, poupando-nos agora desta cena ridícula? Mas não, ele vai continuar à solta a ganhar a sua vidinha com biscates perigosos, lançando pânico e terror! Não no Brasil ou no Iraque mas num país da União Europeia! No seio de um Povo com quase nove séculos de história!

POSTED BY HUMBERTO ON WED. 29 NOV. 2006 AT 20H00 (8 pm)