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Saturday, March 10, 2007

 
Estilo Carlos Pitta: no topo da náutica,
automobilismo e turismo

Entrevista a Carlos Pitta, ex-director geral da ACP Viagens, por Humberto Ferreira


A entrevista decorreu a bordo do Quo Vadis I, na doca de Belém, numa maravilhosa tarde de Março. A visita ao veleiro foi altamente satisfatória. Foram horas a avivar recordações, emoções e amizade q.b. As respostas exprimem uma incomparável experiência prática e analítica. Uma boa introdução para um manual de 'cruzeiristas'.

Conheci-lhe três paixões. Qual a mais persistente?
A vela. Comecei a velejar com o meu pai com oito anos, a bordo do veleiro Argus. Depois corri em sharpies de 9m2 no Clube Naval de Cascais e ganhei o gosto pelas medalhas. A primeira numa regata de aniversário da Associação Naval de Lisboa. A internacionalização em Valência, num torneio de snipes em representação do Sport Algés e Dáfundo. Regatas em flying dutchman e dragões. A primeira vitória oceânica está inscrita no troféu Walter Brasch, numa regata a Sesimbra no Canção do Vento. Fui navegador dos iates Patricia e Pearl Dragon até que em 1999 comprei o veleiro Quo Vadis I, alvo e refúgio das minhas evasões marítimas a Cascais, Tejo acima, ou até mais a Sul no Verão.

MÁQUINAS DE CORRIDAS
E as outras 'inclinações'?
Nos anos 60 comecei a partilhar a vela com o automobilismo. Fui praticante de ralis (Camélias, Monfortinho, Figueira da Foz ...), em representação do Club Arte e Sport. Entretanto, sendo, na época, o ACP a autoridade desportiva nacional, delegada da FIA - Federação Internacional do Automóvel - César Torres dinamizou e organizou provas que foram uma referência no automobilismo internacional, constituindo uma equipa de comissários. Tive o privilégio de integrar este núcleo, entre outros, no Rali Internacional TAP, depois Rali do Vinho do Porto e Rali de Portugal. Assim como os Grandes Prémios de Portugal em Fórmula 1, no autódromo do Estoril.

VOCAÇÃO FIRME PARA VIAGENS
Falta falar de turismo?
Entrei para o sector em 1973. Trabalhava numa multinacional e fui a Nova Iorque numa promoção da Mundial Turismo. Em Nova Iorque pediram-me para orientar os passageiros de um autocarro. Gostei e também gostaram do meu contributo. À volta convidaram-me para o departamento de grupos. Fiquei assim viciado no Turismo e o meu amigo António Baptista foi o 'culpado'. Depois ingressei na Citirama como chefe de agência, onde ganhei o primeiro TopTen de vendas da TWA.
Em 1977, o grupo Lufrantur tomou a agência Havas e desafiou-me para recuperar a empresa. Aceitei o lugar de director comercial e não me arrependi.
Entretanto, César Torres projectou dinamizar a secção de viagens do ACP e desafiou-me mas, dado o compromisso com a Havas, só aceitei, em Janeiro de 1985, com a cargo de director geral.
Comecei com cinco colaboradores e 22 anos depois reformo-me com a marca ACP Viagens consolidada, com três lojas, uma super equipa de 30 técnicos, uma colecção de TopTen anuais da TAP, TWA, Varig, TopOne dos cruzeiros da Classic e Clube Mais da Melair, e um 'Protagonista do Mar' da Costa Cruzeiros. O ACP Viagens tem sido líder em vendas e promoção de cruzeiros, graças a um excelente plantel de especialistas neste nicho, aos associados satisfeitos com a qualidade ACP, e ao apoio das várias direcções do Clube com quem tive o privilégio de colaborar.

LISBOA: TERMINAL DE CRUZEIROS
Vamos falar de cruzeiros?
A indústria de cruzeiros tem beneficiado de sucessivas melhorias e crescido como nenhum outro segmento. Com a introdução de novos e maiores navios. Mais opções de itinerários e cruzeiros temáticos, entre três e 15 noites. Mais entretenimento e actividades desportivas a bordo. Novos conceitos de cruzeiros de férias e de incentivos, logo maior segmentação, maior capacidade em cada cruzeiro e mais vendas.

E como observa o mercado português?
Em 1992, em Portugal venderam-se cruzeiros a cerca de 4000 passageiros. Dez anos depois foram 20 mil. Em 2010, espera-se que sejam 50 mil. O maior problema é a logística que importa montar pela falta de cruzeiros com partida e/ou chegada a Lisboa. Mas há boas notícias, além do novo terminal de cruzeiros a construir em Santa Apolónia, a Costa anunciou um itinerário regular por Lisboa, como tem feito há anos pelo Funchal. É natural que outras companhias lhe sigam o exemplo. Tem havido apenas algumas dezenas de escalas para se embarcar passageiros em Lisboa, incluindo os navios da Classic International Cruises de Georges Potamianos, o armador do Funchal, Princess Danae, Athena e Orion, todos com bandeira portuguesa. Penso que a RCI e a MSC terão também uma palavra a dizer. Mas é preciso captar mais turn-arounds.

CONCORRÊNCIA INDEFINIDA
Sentiu problemas na distribuição de cruzeiros?
Sendo um produto que dá mais trabalho a estudar, vender e promover, haverá duas dúzias de agências e operadores especializados, apesar das múltiplas vantagens e dos armadores continuarem a praticar boas margens de comercialização. Outro factor positivo é a publicidade boca-a-boca entre a maioria dos clientes e amigos. Por outro lado, as empresas aéreas têm vindo a cortar comissões, forçando as agências a cobrar taxas de reserva, emissão e alterações por cada acto pedido pelos clientes. É o único negócio em que os fornecedores se recusam a pagar os custos da distribuição.

Quais as diferenças entre a venda de uma passagem aérea e um cruzeiro?
No avião vende-se um assento disponível em rotas com vários voos ao dia e várias companhias nas rotas mais populares. O cliente do médio curso cada vez se interessa menos pela companhia, modelo do avião ou aliança em que viaja, pois os aviões operam cada vez mais como autocarros colectivos aéreos. Obviamente que não me estou a referir aos clientes corporate.
Enquanto o pacote dos cruzeiros vendido em Portugal engloba a escolha criteriosa do navio, companhia, camarote e deck (exterior ou interior, a meia-nau, à popa ou à proa, a estibordo ou a bombordo), assim como do restaurante e das excursões nos portos de escala, mais a reserva da viagem aérea, a dormida e os transfers para o/s porto/s de embarque e desembarque - seja em Barcelona, Génova, Veneza, Pireu, Amsterdão, Southampton, Dover, Miami ou Vancouver.
A diferença maior é que para se manter a reserva num cruzeiro é cobrado um depósito e o saldo é pago com mais antecedência. Aspecto negativo para o cliente luso, habituado a decidir à última hora e a pagar mais tarde.


Os portugueses não podem continuar
a ver os cruzeiros passar ao largo da costa!


Quais os aspectos positivos do nosso mercado?
A oferta tem, quanto a mim, cinco pontos favoráveis: qualidade crescente; elevado índice de satisfação do cliente; 40% a 60% dos clientes repetem; um pacote de férias completo, incluindo visitas panorâmicas e culturais a países ou regiões diferentes todos os dias; num belo hotel flutuante com pensão completa e animação garantida, com discoteca, grandes espectáculos musicais, festas, spa, casino, etc. Sem esquecer a boa rentabilidade. As agências podem vender grupos até centenas de passageiros.
Os armadores também beneficiam pela crescente oferta de navios novos e maiores, colocando a bordo mais bares, maiores spas, casinos, lojas e galerias de arte, mais restaurantes alternativos sujeitos ao pagamento de suplementos, maior oferta de vinhos e serviços mais personalizados nas suites, camarotes e restaurantes. Enfim, um cruzeiro pode constituir a melhor viagem de férias na vida de um casal, família ou grupo de amigos ou colegas.

DIFICULDADE NA FORMAÇÃO
E quais os pontos fracos?
Destaco a formação específica. Apenas a Melair - sob a direcção de Francisco Teixeira, que tem uma intuição rara, destacando-se nas relações internacionais com directores dos armadores - é pioneira na formação. Compilou um manual precioso a que chamou Guia do Especialista em Cruzeiros. Este ano, o operador Nortravel também fez formação, relativamente às vendas da MSC, produto da visão de António Gama.
Pena que, por vezes, o profissional volte para o balcão sem se lembrar mais de falar aos seus clientes sobre as vantagens dos cruzeiros, incentivando-os a experimentar, seja para uma reunião familiar, de amigos, aniversário, lua-de-mel, cruzeiro temático ou incentivo. Só nas agências mais especializadas, há vendedores experientes neste nicho.
Além disso, há a desvantagem da situação periférica do porto de Lisboa, em relação ao Mediterrâneo e ao Norte da Europa - os dois pólos europeus mais usados nas rotas de cruzeiros. É preciso incentivar a promoção conjunta da tradicional operação nas ilhas atlânticas (Açores, Madeira e Canárias), Marrocos, Algarve, Lisboa, visando incluir Portugal num terceiro pólo de cruzeiros europeus.

MARCA DE CRUZEIROS ACP
Entre as metas realizadas qual a que mais o satisfez?
Certamente o êxito dos cruzeiros ACP. O ACP Viagens reactivou em 2003 (ano do centenário) os cruzeiros ACP, com a Rota dos Príncipes no Mediterrâneo, a bordo do Splendour of the Seas. Seguiu-se em 2004 o cruzeiro ACP aos Fiordes da Noruega no Braemar da Fred Olsen; em 2005 o cruzeiro ACP às Ilhas Gregas e Istambul no Galaxy; e em 2006 ao Báltico e Escandinávia no Century.

Mas houve cruzeiros da ACP Viagens com mais passageiros?
Nos últimos anos, o ACP embarcou centenas de passageiros em cada travessia Lisboa/Brasil do Island Escape - romagem dos saudosos das viagens transatlânticas para a América do Sul, mas agora com muito êxito e em ritmo de cruzeiro, com escalas na Madeira, Canárias, Cabo Verde, Recife, Salvador, Rio, Búzios e Santos. Também se vendem cruzeiros seleccionados, destacando-se o da Celebrity Cruises à Patagónia e Falkland, em Fevereiro/Março, acompanhado por delegados ACP.

DADOS HISTÓRICOS
O ACP, aliás, não foi o pioneiro de fretamentos de paquetes?
Tudo começou em 1933 com a organização do 1º. cruzeiro ACP a Marrocos e Madeira, a bordo do Quanza fretado à antiga Companhia Nacional de Navegação. Em 1934 foi ao Mediterrâneo no Carvalho Araújo, fretado à Empresa Insulana de Navegação. Uma curiosidade: o preço da classe luxo neste cruzeiro era de 2600 escudos por pessoa. E em 1935 de novo no Quanza, de Lisboa para Leixões, Rouen, Antuérpia e Tilbury.
Entretanto, no final dos anos 70, o ACP fretou o Funchal à Empresa Insulana de Navegação, para organizar vários cruzeiros. Foi esta bela experiência que herdei quando, em 1985, fui dirigir a ACP Viagens.

Quantos cruzeiros fez?
Não sei. Não fiz um registo. Mas calculo que cerca de 40 e assisti à inauguração dos mais modernos. Naveguei nos três maiores paquetes: Grand Princess da Princess Cruises, Queen Mary II da Cunard, e Freedom of the Seas da Royal Caribeean. E, não esqueço, o cruzeiro no veleiro Star Clipper no Mediterrâneo - navio de três mastros para 180 passageiros e 70 tripulantes - onde a navegação à vela é espectacular.

Qual foi o executivo de cruzeiros que mais o impressionou?
Além de Georges Potamianos, pela proximidade e amizade, destaco o Piero Luigi Foschi, presidente da Costa, da Aida e agora da parceria Carnival/Tui. E também Helen Beck, directora de vendas da RCI para a Europa - profunda conhecedora do mercado.

FUTURO PROMISSOR DOS CRUZEIROS
Que planos tem?
Entendi que chegou a altura de o ACP Viagens seguir o seu caminho sem a minha orientação. Existem outros desafios pessoais a que gostaria de dedicar mais atenção, pelo que deixei de exercer o cargo de director geral, iniciado em 2 de Janeiro de 1985, sempre apoiado por uma excelente e talentosa equipa de profissionais.
Participo com assiduidade nas sessões da Academia de Marinha. Sou sócio do Clube Naval de Cascais, Aporvela, Associação Nacional de Cruzeiros e Clube de Oficiais da Marinha Mercante. Costumo proferir palestras náutico-históricas (a circum-navegação comparada de Magalhães e Drake, Sagres - escola e os navios, etc.) e fui desde 2000 vice-presidente do Travel Agency Working Group da Comissão de Turismo da FIA, em representação do ACP.
Além disso, a minha formação náutica em navegação e comunicações e a licença de 'ocean skipper', constituem um desafio aliciante. Em finais de 2006 fui convidado a integrar a secção de Turismo da Sociedade de Geografia. Entretanto, este ano projecto mais um cruzeiro ao Mediterrâneo ... mas a bordo do Quo Vadis I.

Uma mensagem final?
Em 2002 os cruzeiros atraíram 11,2 milhões de passageiros. Em 2010 a previsão aponta 17 milhões - um crescimento de 52% em oito anos. O mercado americano cresce a 10% ao ano e o britânico 6%. Entretanto, o alemão, espanhol e italiano; o latino americano e o do médio oriente são também mercados promissores. A Costa já posicionou um navio no Dubai. Ora os portugueses não podem continuar a ver os navios passar ao largo da costa! Também desejo que a minha experiência no turismo e nos cruzeiros possa servir de estímulo para as gerações mais jovens que agora tomam conta do leme e do rumo!

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Comments:
Olá Humberto !
Muito interresante a sua
intervista ao Carlos.
E parabêms pelo seu Blog !
Um abraço do Eduardo Catalão
 
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