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Friday, December 28, 2007

 
DESCARAMENTO OU CONTRADIÇÕES?
Balanço de 2007 e Expectativas para 2008
Humberto Ferreira comenta crónica de António Vitorino no DN de 28 de Dez. 2007

António Vitorino e eu lemos os mesmos jornais, ouvimos os mesmos canais televisivos (pelo menos assim penso no que se refere a OCS lusos) e vivemos no mesmo país = Portugal. E temos o direito de ver, analisar e transmitir versões diferentes do que sentimos e do que criticamos.
Até aqui tudo bem. Mas então e o factor inteligência? Com que António Vitorino foi bafejado prodigamente? Aí já não há desculpas para aceitar a sua crónica de hoje (28 Dez. 2007) no Diário de Notícias, intitulada Expectativas. Eu preferiria: Contradições.
O autor faz a sua análise inteligente sobre a maneira como cada um avalia o ano de 2007, em função das provações por que passou e das expectativas que nutre para os tempos mais próximos. Tenho 76 anos e desde que me entendo, os políticos lusos vêm sempre com a mesma treta: temos (ou antes vocês têm - eles não ...) que fazer sacrifícios agora a favor do bem estar das gerações futuras! Chega, estamos fartos!!! E vemos o futuro dos nossos netos ainda pior com estas políticas pseudo socialistas e, afinal, imbuídas do mais assanhado liberalismo selvagem - adoptado por Sócrates e pelo seu séquito, com benção superior de Belém!
AV repete que os portugueses são os europeus mais pessimistas quanto à situação mundial, nacional e pessoal (aliás citando estudos de Bruxelas - não haverá outras matérias mais importantes a estudar do que o tradicional pessimismo lusitano comparado com o optimismo de outros europeus com políticos mais clarividentes e menos gastadores?).
Já se sabe que somos os mais pobres, mais abandonados e mais sacrificados da União Europeia, pelo menos de 18 dos actuais países. Se alguém tem dúvidas deve ser JS ou AV?
Mas AV atenua nesta sua crónica a valorização excessiva desse hábito com o fatalismo da nossa (ancestral, acrescentaria eu) "cultura colectiva". Aproveita para admitir que este "ambiente geral" (inegável, acrescento eu) não se reproduz de igual forma em todos os estratctos sociais. Pudera. Mais uma verdade que toda a gente conhece.
Uns por egoismo, outros por irresponsabilidade (é analisar o crescimento do crédito mal parado - mal concedido, diria eu), e outros por ostentação e excesso de ganhos (muitas vezes à margem da lei) são os eternos responsáveis apontados por AV, pelo "consumismo natalício", "viagens aos paraísos tropicais" irresistíveis (onde também costumam ir os ministros ...) e aos centros comerciais (o bombo da festa dos pobres, depois de "desmantelado" o comércio tradicional pelo apertar do cinto fiscal e concorrencial aos pequenos comerciantes, por quem? - pelos amigos e correligionários do próprio AV. Aparentemente, este só vê a árvore, ignorando a floresta dos cada vez mais fortes grupos económicos instalados e em crescimento (pelo menos comparativamente ao tempo de Salazar)!

DESIGUALDADES SOCIAIS E DE OPORTUNIDADES
É outro tema muito caro aos actuais detentores do poder lusitano. É um assunto sério mas só tem servido como bandeira de propaganda. Tal como no tempo de António Ferro e outros magos da manipulação política, sob os quais vivi 43 anos. Por isso sei bem melhor que AV o que é pura propaganda política.
Durante estas três décadas de liberdade nenhum político foi ainda capaz de eliminar o nosso atraso colectivo em matérias tão cruciais como a falta de qualificações técnicas e profissionais (não obstante o excesso de brilhantes mentes intelectuais que pouco ou nada têm acrescentado ao PIB); falta de competividade industrial, comercial e cultural viz-a-viz os próprios parceiros europeus; as assimetrias no acesso à educação, à informação e às mudanças tecnológicas, assim como ao alargamento da pobreza. Há, de facto, agora uma nova geração de investigadores a trabalhar no estrangeiro e alguns em Portugal, onde vivem com o credo na boca sobre os atrasos nas bolsas de investigação. Mas isso não interessa a AV e aos seus pares.

ALHEAMENTO, DESCONFIANÇA OU SELECTIVIDADE?
Quanto ao alheamento pela informação deve-se ao cansaço dos portugueses sobre notícias cada dia piores, aumentos nos preços, nos impostos, nos transportes e no custo de vida.
Não viram, durante a euforia das recentes cimeiras internacionais realizadas em Portugal, os inquéritos televisivos aos populares junto dos locais onde tantos chefes de Estado e de governos se concentraram? Muitos não sabiam o que se passava. Ou quando há greves de serviços públicos, os utentes batem com o nariza na porta, alegando não terem tido conhecimento. Certamente vêem televisão mas para acompanhar o futebol, uns, os programas de má língua, outros, e os restantes limitam-se a ver algum tema mais ao seu gosto, nunca os tele-jornais e muito menos as entrevistas e debates políticos.
A liberdade sem educação tem este alto preço numa balança mal calibrada: o alheamento e a desconfiança da vida pública e colectiva num prato e a opção focalizada no que dá mais prazer a cada um, no outro.
Mas eu que me prezo de acompanhar toda a informação, também fico sem saber se o governo português indemnizou os restaurantes que mandou encerrar no Parque das Nações e em Belém, por causa de garantir a segurança das ilustres individualidades que vieram até nós? Dizem que já não há censura. Mas certos temas são tabu. E AV desinteressa-se por mais injustos que sejam socialmente.

REDEFINIÇÃO DO PAPEL DO ESTADO
Eis uma questão fulcral. Para que pagamos impostos tão elevados para rendimentos tão curtos, como os pensionistas e a maioria dos empregados por conta do Estado e de privados?
É só para os titulares de cargios públicos viajarem e fazerem vida de ricos a par com os seus homólogos? Sejam da União Europeia, Nações Unidas, CPLP, Nato, FMI, Unesco, etc. Estou para ver o primeiro corte de despesas nestas áreas tão importantes para o futuro dos nossos netos!
Não. Não quero um Estado assistencial. Isso representa o antigo Estado miserável. Mas exijo um Estado, acima de tudo, justo e imparcial.
Penso que quanto menos Estado mais sobra para o cidadão comum. Chegando também para erradicar os riscos da exclusão social. O custo da representação do actual Estado pesado e absorvente daria para investimentos nesta área.
Uma coisa que detesto no papel do Estado idealizado por Sócrates é o abandono geral do interior, encerrando escolas, maternidades, urgências, SAP, postos da GNR e da Guarda Fiscal - por exemplo, o frágil barco de madeira que deu à praia na Ilha da Culatra, no Algarve (fronteira Sudoeste do espaço Schengen), com 23 imigrantes marroquinos ilegais, nem foi avistado por nenhuma autoridade, nem Guarda Fiscal (eliminada), nem Marinha, nem Força Aérea, nem SEF, nem sistema informático de pseudo vigilância da costa, habilitado para detectar lanchas motorizadas rápidas de contrabando. Foi preciso os populares telefonarem à GNR ou Polícia Marítima. Se fosse eu telefonava para o 112 - sempre era de borla! Um país assim tão mal governado (e abandonado pela elite do PS) não merece mais!

ATESTADOS, COBRAnças, FISCALIZAÇÃO S E REGULAÇÃO
Os novos vocábulos do aparelho político luso, resultante das modas da União Europeia - pensadas para países ricos. Mas agora há mais países pobres do que ricos. Então em Portugal, onde já tinhamos tudo em duplicados (direcções gerais e institutos públicos) passamos a ter tudo em triplicado com a figura dos reguladores.
Eu diria que quem quer ter vícios, que os pague. Se a Europa mais rica quer este modelo triplicado que o pague aos mais pobres.
E a piada é que os antigos organismos públicos que subsistem andam de candeias às avessas com os novos reguladores, excepto nos casos que acumulam: pelo menos Banco de Portugal e INAC.
As empresas públicas majestáticas (PT, EDP, REN, CP, etc.) também não se coíbem de criticar os seus reguladores. E, curiosamente, também já há reguladores em duplicado.
É por isso que escrevi, no início, que vivo no mesmo país que AV mas temos andado por sítios diferentes. Não creio que um homem inteligente como AV admitisse este modelo de Estado se o PS não fosse poder?
Eu não perfilho o mini-Estado que JS está, abusivamente, a reduzir Portugal. Na Saúde, Ensino, Justiça, Segurança, Ciência e Investigação não se pode poupar. No resto, talvez!
AV e eu podemos ler até o mesmo jornal, mas os artigos que mais me interessam passam despercebidos a AV. Por exemplo, no DN de hoje, li e não gostei: "33 SAP já foram encerrados", "Recuperação mundial passa ao lado de Portugal", "Ministério Público na função pública pode ir ao Tribunal Constitucional", "Governo fecha três prisões", "Esaquadra de Beja tem falta de polícias", "PCP aponta "JS contesta políticas de apoio à natalidade do PS", "Hotel assaltado à mão armada em Paredes", "Viana inaugura nova biblioteca projectada por Siza" (pode ter falta de centros de saúde, escolas e de policiamento, mas tem uma nova biblioteca). Notícias que contradizem as teses da AV mas que nem por isso deixam de ser bons temas para as suas conversas (ou notal soltas?) semanais com Judite de Sousa na RTP1.

DESMANTELAR OU REORGANIZAR O ESTADO
Se o PSD estivesse no comando, AV seria o primeiro a desejar desmantelar esse Estado tão assimétrico mas como a responsabilidade cabe, desde 2005, ao seu correligionário, fica todo abespinhado com Luís Filipe Menezes por ter prometido aos seus apoiantes que desmentelará este Estado se ganhar as eleições em 2009.
AV descrê ainda do mercado a funcionar em plena liberdade, apesar de ter vivido na Bélgica e de conhecer toda a Europa, senão todo o mundo. Está no seu direito. Mas então como é que apoia um governo que condena os pequenos comerciantes das lojas tradicionais à miséria e autoriza dezenas de novas grandes superfícies, sejam centros comerciais ou hipermercados de tudo e mais alguma coisa, desde produtos alimentares a bricolage. Isto é liberdade por um lado e abuso de concorrência desleal pela via governamental. Ou então o programa do PS e a sua política para o comércio estão errados e devem ser rapidamente corrigidos.
A bravata desmanteladora de LFM também não me cativa, mas sempre é uma esperança perante a arrogância, mau feitio e excesso de propaganda de JS. Veja o dr. AV o que tem sucedido aos ingénuos compradores de computadores portáteis de refugo a 150 euros coma a obrigação de 15 euros mensais de assinatura à TMN - subsidiária da PT - e do calvário das centenas de aderentes com os aparelhos de alta tecnologia e banda larga avariados na província. Têm de se deslocar a Lisboa ou ao Porto e ficam sem acesso à internet durante largas semanas, continuando a pagar os 15 euros/mês à empresa pública a que JS e a sua dinâmica equipa recorreram para essas acções de pura propaganda política.
Quando à resposta do PS às desigualdades sociais, convido o dr. AV a visitar a Cova da Moura, Brandoa e outros "bairros" sociais da periferia da capital. Cuidado dr. AV, não entre por aí. Faz-me lembrar o discurso de Carlos do Carmo, ontem na grande entrevista à Judite de Sousa, em que aproveitou para falar da fome que se alastra, enquanto ele e outros frequentam os melhores restaurantes de Lisboa e Nova Iorque.
Políticos, artistas e jornalistas têm sempre que admitir que não sabem mais que um pobre operário quase analfabeto mas experiente na miséria que tem passado. Palavras são fáceis de dizer, cantar e escrever. O pior são as acções e os resultados práticos que sofremos no colectivo.

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