BelaSagres.blogspot.com

Divulgar Sagres. Bem-vindos ao melhor surf, pesca, mergulho, ciclo-turismo, e às praias vicentinas. Comentar a actualidade. Debater Ambiente, cruzeiros, aviação, excursões, hospitalidade, eno-gastronomia, desportos, cultura, eventos, formação e conhecimento. Aberto a contributos e críticas.

Monday, December 10, 2007

 
Portugal ensaia imagem global
Por Humberto Ferreira
O ministro da Economia apresentou em 10 Dez. a nova campanha de imagem transversal da "marca Portugal", a lançar a 13 de Dezembro para coincidir com a assinatura do Tratado de Lisboa - a carta reformadora da União Europeia, aprovada em Lisboa.
Há mais de 30 anos que não se ousava fazer uma campanha transversal, abrangendo o Turismo, o Investimento Estrangeiro, as Exportações e o Talento Luso. É, portanto, uma iniciativa positiva.

OPÇÕES E ALVOS
Sabe-se que o investimento previsto nesta acção é de três milhões de euros. Pouco, quando só a CML vai gastar 10 milhões de euros num concurso de ideias para reabilitar o Parque Mayer. Ora sem ovos não se fazem omeletas.
Os meios iniciais previstos são, principalmente, outdoors e publicações prestigiadas nos seguintes mercados: na Europa, Espanha (talvez o menos importante neste caso), França, Reino Unido e Alemanha; e nos BRIC - Brasil, Rússia, Índia e China. Neste lote, tal como em Espanha, também no Brasil não é novidade esta imagem do Portugal renovado com tendência modernista. Enquanto no resto do mundo continuamos a ser vistos como um país pobre, atrasado, conservador e desinteressante, com cidades sujas, edifícios, fábricas e campos abandonados e alguns resquícios terceiro mundistas. Já em 2004 a imagem de um país relvado foi considerada publicidade enganosa.
Creio que seria mais vantajoso tentar, no rescaldo positivo da presidência portuguesa da União Europeia, tentar penetrar na América Latina - onde a Espanha tem tido superioridade - assim como privilegiar o resto da Europa, Médio Oriente e outros países da Ásia/Pacífico - onde há boas oportunidades de captação de negócios e investimentos.
Sugiro, ainda, além dos outdoors e publicações, a aposta na Net e canais da TV global, através de parcerias sobre eventos e outras iniciativas com mais-valia comum e interesse internacional.

TÓNICA EM CELEBRIDADES
O recurso a celebridades (detentoras da imagem positiva do jovem talento luso) é antiga mas continua a dar bons resultados, pelo menos nas campanhas de bens de consumo intensivo, especialmente Turismo, banca e artigos de luxo e entretenimento.
Mas tudo depende do risco. Por exemplo, se Cristiano Ronaldo acumular eventuais castigos, jogadas agressivas, acidentes e escândalos, deixa de ser um activo para este investimento. O BES assume esse risco com Cristiano. O BCP já assumiu idêntica postura com Carlos Cruz mas acabou por perder o esforço despendido. E há outros casos a nível internacional. Mas numa campanha global do País o risco é ainda maior.

IMAGEM ARTICULADA
Uma alternativa seria usar um leque mais alargado de talentos lusos. Por exemplo, a interpretar uma canção que tenha alcançado êxito internacional.
Mas 60 anos depois do "Abril em Portugal"(versão para "exportação" do fado "Coimbra é uma lição"), o busílis é qua o êxito internacional da música portuguesal?
Ora aqui fica um desafio aos responsáveis da TV, aos criadores musicais e concorrentes a concursos europeus, onde Portugal aposta sempre nos trunfos furados. Viu-se no Festival da Eurovisão e no recente Junior European Song Contest realizado em Roterdão, e onde o nosso intérprete ficou em penúltimo lugar. Má escolha da canção, da música, guarda-roupa, coreografia e estilo. Tanto os gestores da televisão pública como os génios da canção ligeira nacional têm que ser substituídos - como nos jogos de futebol, quando os atletas ou os dirigentes não rendem ... Uma coisa é certa: à juventude de 16 estados do Leste e do Norte da Europa esta imagem de Portugal não agradou. Isto passou-se na semana passada em Roterdão e foi transmitido para a rede televisiva europeia.
Que sirva a lição a aprender: a gestão da imagem de Portugal tem que ser integrada e articulada. E a representação de Portugal tem que ter um mínimo de qualidade. Não podemos arriscar mais compadrios ou veleidades artísticas não comprovadas na prática. Curiosamente, há amadores e profissionais com muita categoria a disputar os concursos de talentos nos três canais televisivos, que nunca são apurados para representar o país a nível externo. A excepção foi Sónia Araújo na edição britânica do Dança Comigo 2007, que convenceu muitos países mesmo sem vencer. Todos estes eventos susceptíveis de afectar a imagem de Portugal devem ser articulados com as acções estratégicas do TP ip e Aicep.

OBJECTIVOS AMBICIOSOS
Voltando à campanha Portugal transversal ontem revelada, os objectivos oficiais são projectar modernidade e capacidade para atrair investimentos industriais e tecnológicos. Parece que Turismo e Transportes não precisam? E então a TAP já não quer um parceiro investidor de referência?
Mas o caderno de encargos da BBDO realça, em especial, a área das energias eólicas e outras renováveis - certamente por encomenda.
Meta ambiciosa, quando há tanta boa matéria portuguesa que temos para exportar e para agradar a milhões de estrangeiros, desde o vinho do Porto (praticamente desaparecido dos bares e dos restaurantes, tendo passado a ser uma bebida doméstica para uma geração em vias de extinção), e sem dúvida uma dúzia de marcas de vinhos de mesa premiados e com capacidade de produção para constarem das listas dos grandes hotéis mundiais. Promover não é apenas realizar relações públicas. Também é preciso produzir resultados.
Ora Portugal tem muitos produtos de excelência com aceitação e qualidade para ganhar estatuto no exterior. Desde as porcelanas aos cristais e filigrana, do mobiliário aos têxteis-lar, da alta costura ao pronto a vestir, do calçado aos acessórios e artesanato, da gastronomia aos enlatados. Sem esquecer o software, moldes, obras e invenções. Todos a merecer maior exposição global num pacote promocional criativo.

TENDÊNCIAS PUBLICITÁRIAS
Por outro lado, hoje as campanhas institucionais de exportações e investimentos são feitas à base de imagens com pessoas alegres, a curtir as vantagens oferecidas. As gerações actuais são mais activas, mais abertas e mais sociáveis. Mas os experts lusos teimam em imagens de paisagens naturais mas que acabam por parecer virtuais, ou personalizadas por celebridades que meio mundo conhece (eu confesso: não sei quem é Joana Vasconcelos), em deambulações pseudo românticas, culturais ou contemplativas. Não há dúvida, o estudo do Icep em 2000 continua certo: os portugueses são inseguros, passivos, com falta de iniciativa e sem saber o que querem nem como lá chegar. O nosso mal: não é com as últimas campanhas do Turismo que se muda esta tendência. E a culpa não é, seguramente, minha! Escrevo sistematicamente sugestões construtivas há 55 anos para múltiplos órgãos de comunicação social e tenho vasta prática dos três lados do Turismo, como profissional, consumidor e estudioso. Mas só tenho visto praticamente erros e repetições. Declaro, aqui, que falhei como uma criança de ... 10 anos!

IMAGENS MAIS DINÂMICAS
Como se projecta o dinamismo de um País em mudança? Recorrendo a imagens de fábricas e laboratórios inovadores, novas cidades, portos, aeroportos, pontes, auto-estradas, marinas, estádios e centros desportivos; projectos ambiciosos (não faltam no Turismo, assim os fundamentalistas verdes permitam concretizar); universidades prestigiadas; transportes e tecnologias avançadas; galas, torneios e eventos com projecção global (Lisboa-Dacar, Sete Maravilhas, regatas pré-olímpicas e gala da Isaf, que passaram praticamente despercebidas, etc.); as mais movimentadas feiras temáticas, industriais, agrícolas e de serviços; e, sempre desportos, desportistas e os portugueses mais talentosos ao natural - não em pose.
O SET admitiu ao DN que não conhece qualquer estudo que tenha avaliado o valor da marca Portugal. Aliás, preocupação do Icep/Aicep na vertente Made in Portugal. É verdade. A Espanha em si não se arroga o estatuto de marca mas as suas campanhas do Turismo e do Made in Spain são positivamente reconhecidas e globalmente apreciadas.
Já acho péssima estratégia, tentar encomendar a experts espanhóis uma contra-campanha. Assim como não aceito a encomenda desta a um fotógrafo estrangeiro. Parece que os próprios membros do governo nem acreditam nos nossos fotógrafos, quanto mais na capacidade lusa para inovar e criar soluções tecnológicas, financeiras e de marketing. O próprio tecido empresarial precisa de levar um abanão forte e despertar para o que se passa no mundo que nos rodeia.
Enfim, desejo a melhor sorte a mais esta campanha cujo vértice é o Turismo. Mas, mais uma vez, lamento não me rever na concepção apresentada.
Humberto Ferreira

Comments: Post a Comment

Subscribe to Post Comments [Atom]





<< Home

Archives

October 2006   November 2006   December 2006   January 2007   February 2007   March 2007   April 2007   May 2007   June 2007   July 2007   October 2007   November 2007   December 2007   February 2008   March 2008   June 2008   July 2008   August 2008   September 2008   October 2008   November 2008   December 2008   January 2009   March 2009   April 2009   May 2009   June 2009   July 2009   August 2009   September 2009   October 2009   December 2009   January 2010   February 2010   March 2010   April 2010   May 2010   June 2010   July 2010   August 2010   September 2010   October 2010   November 2010   December 2010   January 2011   February 2011   March 2011   April 2011   May 2011   June 2011   July 2011   December 2011   February 2012   May 2012   June 2012   July 2012   September 2012  

This page is powered by Blogger. Isn't yours?

Subscribe to Posts [Atom]