PESCAR CONTRADIÇÕES
Mais uma crise. Mais polémicas. Mais um programa Prós e Contras na RTP1. Resultado: tudo na mesma.
Temos um Estado ultra-desconfiado das potencialidades da sociedade civil. Um povo que prima pelo diz-se diz-se e que vê no governo a salvação para todos os seus males, sejam empresários, trabalhadores ou desempregados. E uma imprensa à altura desta realidade. Ora a reboque do governo, ora a acompanhar as ridículas reivindicações empresariais ou sindicais. Falta-nos uma comunicação mais pedagógica.
A agonia das pescas europeias é um facto. Mas esta crise pode ser o começo de uma mudança que se impõe.
Os pescadores são os únicos produtores activos a não controlar os custos de produção nem os preços de venda. Compram as embarcações, motores e aparelhos lançados no mercado, sempre com as melhores intenções mas nem sempre com resultados compensadores. Vão diariamente ao mar sem saber o que vão colher, ao contrário dos agricultores que acompanham o estado das sementeiras e pomares ao longo de cada época. Os pescadores não têm contratos de exclusividade para fornecer os seus clientes directos. Entregam, sem fixarem o preço mínimo para venda, o peixe na lota e pagam diariamente à cabeça as taxas impostas pelo Estado e pelo monopólio da respectiva comercialização. É este o aspecto desconfiado e agravante do governo. Os compradores são registados pelo fisco e quem faz o preço para os retalhistas e canal Horeca. Também há as grandes superfícies a comprar 60% do pescado (fresco, importado de Espanha, proveniente da aquacultura e o transformado) ao preço que mais lhes convêm, não pelo preço justo de cada dia. Mas depois os consumidores, seja nos mercados municipais, peixarias, grandes superfícies ou restaurantes, vão pagar o peixe cinco vezes mais caro. Adicionados os lucros e custos de transporte, armazenagem, congelação, distribuição e promoção.
É isto que está errado. O peixe tem um valor, cuja média não sobe há mais de uma década na lota. Só tem subido exponencialmente no retalho, prejudicando pescadores e consumidores, enquanto engorda os intermediários.
Quem não admitir esta contradição nem emendar este erro (corrente na União Europeia e em Portugal) vai ser responsabilizado pela "morte" das pescas, pela extinção da classe piscatória, e pela carestia incomportável do peixe - no terceiro maior consumidor mundial da dieta do mar. Os custos de produção vão continuar a subir e o governo não mostra interesse nem capacidade em regulamentar a composição do preço do peixe na lota, tal como faz em relação aos combustíveis - o factor estratégico causador das crises energética, alimentar e económica.
Labels: PESCAS
October 2006 November 2006 December 2006 January 2007 February 2007 March 2007 April 2007 May 2007 June 2007 July 2007 October 2007 November 2007 December 2007 February 2008 March 2008 June 2008 July 2008 August 2008 September 2008 October 2008 November 2008 December 2008 January 2009 March 2009 April 2009 May 2009 June 2009 July 2009 August 2009 September 2009 October 2009 December 2009 January 2010 February 2010 March 2010 April 2010 May 2010 June 2010 July 2010 August 2010 September 2010 October 2010 November 2010 December 2010 January 2011 February 2011 March 2011 April 2011 May 2011 June 2011 July 2011 December 2011 February 2012 May 2012 June 2012 July 2012 September 2012
Subscribe to Posts [Atom]