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Sunday, September 19, 2010

 
As sete Maravilhas Naturais e a Costa Vicentina

Humberto Ferreira


Foram divulgadas no final de um excelente espectáculo, realizado no sábado 11 de Setembro de 2010, nas Portas do Mar, Açores, as 7 Maravilhas Naturais de Portugal e, pela segunda vez, Sagres e a Costa Vicentina não foram votadas, nas três opções em que foram nomeadas: a Ponta ou Promontório de Sagres (na categoria de Zonas Marinhas), o Pontal da Carrapateira (Praias e Falésias), e o Parque Natural do Litoral Alentejano e da Costa Vicentina (Áreas Protegidas).

De facto, os votantes não só ignoraram um dos promontórios mais conhecidos no mundo, como o mais extenso parque natural da orla marítima portuguesa – o Litoral Alentejano e Costa Vicentina – que vai desde Sines a Burgau, e que pelos vistos não tem categoria nem beleza natural suficiente para ser uma Maravilha Natural deste país. Os votantes desprezaram, de uma forma ligeira, um dos grandes marcos civilizacionais das rotas marítimas.
Os espanhóis orgulham-se do Cabo Finisterra, os sul-africanos do Cabo da Boa Esperança, os chilenos do Cabo Horn, e os portugueses? Orgulham-se dos jogadores da bola. Ponto final!

BOA INICIATIVA
Mas atenção: a votação para as 7 Maravilhas da Natureza foi uma iniciativa da sociedade civil, com ampla divulgação das normas de apuramento dos 21 sítios nomeados por um "painel de notáveis", sob a moderação de António Vitorino.
O resultado, auditado pela PWC, não agradou a todos – nem a mim – mas representa a expressão maioritária dos 650 mil votantes. Não fazendo sentido, assim, as reacções regionais que se seguiram, sobre o esquecimento de outras incontestáveis “maravilhas” que foram vencidas, pois cada núcleo de promotores, padrinhos e patrocinadores teve liberdade e tempo para actuar, o que uns fizeram melhor que outros. No conjunto, penso que houve, sim, mau amadorismo com laivos da arrogância dos que pensam sempre conseguir facilmente vitórias conjugadas com os seus interesses.

Por outro lado, a emissão da RTP sobre Sagres teve lugar no dia da sentença da Casa Pia. A apresentadora inventou o “Pontal de Sagres” (aprendi que se chamava Promontório de Sagres, por ser um cabo elevado), e confundiram o Cabo de São Vicente, onde o programa foi realizado, com o sítio da “maravilha” nomeada, a 8 km de distância. Azar? Ou engano?

Também notei alguma falta de criatividade das forças vivas do Algarve, gestores e técnicos do Parque Natural da Costa Vicentina e empresas turísticas instaladas. Os promotores de Aljezur (embora derrotados) e da Ria Formosa (que ganhou bem na categoria de zonas aquáticas) foram mais dinâmicos. Parabéns.

FACTOS IGNORADOS
Convém lembrar que Fátima, com 3 milhões de visitantes/ano, e Sagres, com mais de um milhão, continuam a ser os locais que, ao longo de cada ano, atraem mais turistas nacionais e estrangeiros para excursões complementares e opcionais, que despertam interesse religioso, cultural, histórico, ambiental e panorâmico. O sítio de Sagres tem projectado, ao longo dos séculos, a nossa identidade marítima, não sendo apenas uma maravilha local, mas um monumento histórico-natural com larga projecção global. O título de Maravilha Natural seria bem atribuído mas não é fundamental!

As iniciativas da Fundação das Novas Maravilhas (Mundiais e Nacionais) e dos organizadores e patrocinadores do evento foram, pois, inteligentes e positivas. Estando todos de parabéns. Resta agora tirar os devidos proveitos pela promoção televisiva obtida, a nível central, regional e privado.

SETE MAIS UMA
Levo à atenção dos operadores e programadores turísticos nacionais e estrangeiros: o pacote das Maravilhas Naturais está pronto, mas falta viabilizá-lo! Conheço bem e admiro as sete Maravilhas vencedoras. O voto popular até alinhou com as minhas escolhas, excepto no Promontório de Sagres e Costa Vicentina.

Quando nos perguntam no exterior de onde somos, os interlocutores mais populares ligam logo o País às mediáticas figuras do futebol (muitos até já esqueceram Amália) e ao Infante D. Henrique, Vasco da Gama, Fernão de Magalhães, ou Bartolomeu Dias. A Liga das figuras históricas que perduram ao longo dos séculos. E a Sagres ou Fátima!Por serem dois sítios míticos. Outros pensam que Lisboa é uma cidade de Espanha e do vinho do Porto, francamente deixou de ser uma bebida apreciada pela juventude mundial e, portanto, é desconhecida! Por culpa dos seus produtores e promotores. Digam-me qual é a discoteca que vende uma garrafa desse néctar por mês? Merece um prémio especial.

Além disso, Sagres está numa incomparável zona marinha, com trunfos panorâmicos, ecológicos e geológicos na Ponta Sudoeste da Europa. Zona valorizada ainda com espécies raras da fauna e flora, observação de aves migratórias, e mar no horizonte infinito … onde a Europa (ou seja os europeus que passam férias no Algarve) admira o mais imponente Por do Sol no Atlântico. É ver centenas de pessoas nas escarpas do Cabo São Vicente ao por do Sol!

Por isso, a noite de 11 de Setembro foi da consagração das Sete Maravilhas Naturais mais da Costa Vicentina, com três nomeações! Todas as 21 nomeadas ganharam! A organização poderia ter concedido troféus de ouro, prata e bronze e os promotores regionais do Ambiente e do Turismo, ficariam satisfeitos.
É evidente que Sagres precisa, como outros destinos, de ser melhorada. A falta de manutenção da Fortaleza é urgente, mas creio estar para breve.

PROJECTOS PARA SAGRES
O que é feito do projecto do Centro de Estudos Oceanográficos de Sagres? E da Fundação Oceanis? Todo o trabalho executado foi abandonado? Por ter mudado a gestão política?
Lembro também, que entre 1985-1995 foi encomendado um estudo de ideias para valorizar o Promontório de Sagres e um deles previa a geminação de Sagres com Cape Canaveral (hoje Cape Kennedy), integrando a construção de uma extensa galeria subterrânea (para não obstruir a paisagem marítima, ainda por validar tanto nas iniciativas das 7 Maravilhas do Património como das 7 da Natureza), com duas exposições permanentes: de um lado, quadros e objectos representativas da epopeia das Descobertas marítimas portuguesas, nos séculos XIV e XV, e do outro lado, com objectos, instrumentos e figuras da epopeia espacial norte-americana no final do século XX e XXI.

O Passeio-Museu das Viagens e Globalização foi também apadrinhado pelo prof. Licínio Cunha, então secretário de Estado do Turismo! Passados 25 anos, e depois de novos contactos nos EUA, este poderá ainda ser o museu com projecção global que falta ao Algarve, capaz de deslumbrar os visitantes e turistas nacionais e estrangeiros, se vier a adoptar arrojadas soluções de arquitectura e museologia.

Muitos se lembram, quando visitavam Sagres, com frequência, milhares de jovens da Austrália, Nova Zelândia e outros países longínquos, com o guia mundial das Pousadas da Juventude, à mão! Com a extinção da Pousada da Juventude, no perímetro da Fortaleza, desapareceram, perante a indiferença dos locais. Mas com o Museu das Viagens e Globalização, voltarão a visitar Sagres!

Recentemente foi pintada na velha estrada, o início da grandiosa “ciclovia europeia”, que do Cabo de São Vicente se dirige para Norte até Finisterra e para Leste até à Andaluzia. Uma placa assinala o seu início no Cabo de São Vicente e já é usada por um crescente número de atletas e ciclo-turistas, mesmo com algumas deficiências de segurança, manutenção e vigilância.

Em matéria desportiva falta também dinamizar provas locais para amadores e profissionais, relançando práticas náuticas e estradais. Só o windsurf e surf estão activos.

Por fim, a recente Sociedade Polis da Costa Vicentina propõe-se enquadrar a grandiosa avenida, da entrada da vila à Fortaleza, permitindo admirar-se a imponência do Promontório e das ondas do Atlântico sobre as praias do Tonel e da Mareta.

Mas nas falésias não se pode permitir mais auto-caravanas acampadas, conforme muito bem avisou Clara Ferreira Alves na revista Única-Expresso de 14 de Agosto 2010, sob o sugestivo título "Selvagens nas Dunas"! Por isso, antes de consagrada “Maravilha”, a Costa Vicentina tem muita obra a concluir para elevar a auto-estima colectiva dos algarvios e dos portugueses em geral.

NOVO CARTAZ TURÍSTICO
Para que conste, eis as 7 Maravilhas Naturais mais votadas:

Lagoa das Sete Cidades, São Miguel, Açores (categoria: Zonas Não Marinhas); Praia do Portinha da Arrábida (praia e acessos praticamente abandonados, a merecer maior atenção das entidades públicas e privadas), situada entre Setúbal e o Cabo Espichel (Praias e Falésias); conjunto florestal Laurissilva, Madeira (Florestas e Matas); Paisagem Vulcânica da Ilha do Pico, Açores, o pico mais alto de Portugal (Grandes Relevos); Grutas de Mira d’Áire, nos municípios de Porto de Mós (Grutas e Cavernas); Ria Formosa, representando o Algarve, entre as praias do Ancão e Cabanas (Zonas Marinhas); e o Parque Nacional da Peneda-Gerês, abrangendo os municípios de Terras do Bouro, Arcos de Valdevez, Melgaço, Ponte da Barca e Montalegre; mas o parque foi alvo de grandes incêndios florestais neste verão, com muitos hectares de vegetação ardida (Áreas Protegidas).

MODELO DE DESENVOLVIMENTO REGIONAL

O maior inimigo do equilíbrio ambiental no nosso País é a vertiginosa corrida à construção civil. Quantas casas, apartamentos, lojas e oficinas há vagas? E quantos prédios abandonados há em Portugal? Li que há em Portugal mais de 300 mil casas por vender e o dobro de casas abandonadas e muitas em ruínas, valendo o título de Portugal das casas vazias! Como alerta a edição da revista Visão de 17 de Setembro. E, além deste quadro de desleixo e péssima aplicação dos recursos da nação, quantas famílias continuam a viver em condições sub-humanas? Umas em habitações municipais impróprias e outras em barracas? Mas que sociedade foi esta? Reconstruída desde 25 de Abril, são 36 anos de ilusões perdidas! Sem falar do crescimento dos sem-abrigo! São vergonhas de que não gosto de escrever mas é preciso para relembrar as prioridades aos nossos governantes e aos dirigentes regionais que, como os dirigentes do futebol, só vêem os seus interesses e nada mais! Sou pela regionalização, mas não com estes senhores!

Ora tudo isto não será um aviso de que o modelo económico adoptado nas últimas décadas também está errado?

É uma situação que se estende a todo o País. Como se não houvesse outros negócios mais viáveis, na indústria, agricultura e fruticultura, pesca, serviços e ciência... na marinha, por exemplo!
Mas enquanto do excesso da oferta imobiliária, não resultar o rebentamento de nova bolha – que começa a afectar os EUA, Espanha e outros países apostados no betão – as entidades e a banca portuguesa vão autorizando mais betão, mesmo se o mercado e a imprensa não escondem o excesso da oferta!

Este problema merece um debate rápido e uma solução breve, com a participação de todos os parceiros e dos responsáveis de todas as actividades económicas.
Por exemplo, a banca, os construtores civis, os empreiteiros e promotores imobiliários, e os investidores hoteleiros já se uniram há largos anos em projectos que hoje estão em velocidade de cruzeiro. Constituíram grandes parcerias de hotelaria e turismo. Será fácil, portanto, reunirem-se com as autoridades do Planeamento e Estratégia (haverá um Conselho Superior?) e adoptarem um novo rumo de desenvolvimento, marcando, por exemplo, uma presença mais forte nas obras em projecto e construção em África, Médio Oriente, América Latina, Ásia-Pacífico, etc. E, entretanto, vendam os milhares de apartamentos e vivendas vagas que sobram em Portugal.

AUTO-ESTIMA
As populações precisam de bons motivos para elevar a auto-estima! Portanto, deixo aqui quatro sugestões válidas para a Costa Vicentina:

1ª - O Passeio Museu das Viagens e Globalização;
2ª - O prometido Centro de Estudos Oceanográficos de Sagres;
3ª - A melhoria da "ciclovia europeia";
4ª - A dinamização das actividades desportivas , em conjunto com a urbanização da vila e da zona balnear de Sagres, ao abrigo do plano não divulgado da Sociedade Polis da Costa Vicentina,.
Creio que com estas quatro âncoras Sagres se colocará sob o merecido foco de milhões de visitantes/ano.

Proteja-se o Património. Valorize-se a Natureza. Acolham-se melhor os visitantes e turistas civilizados! E não se permita "acampar" ou estacionar “hospedarias ambulantes”nas frágeis falésias da Costa Vicentina aos novos "invasores" selvagens, sejam portugueses ou estrangeiros!

INTERNACIONALIZAÇÃO
Por último, gostei bastante do programa especial da RTP, da Fundação New 7 Wonders e do Governo Regional dos Açores, a 11 de Setembro.

Pena que não tivesse sido mais dirigido para o exterior, com apresentação bilingue, até por ter sido emitido entre a Europa e a América do Norte.
Não se podem perder ocasiões, como esta, para se promover 21 maravilhas Naturais de Portugal! E se boda molhada é abençoada, esta vai ser badalada! Mas temos que vender melhor o nosso turismo no exterior e esta foi uma ocasião exemplar.

De alguns protagonistas da “casa” anotei as seguintes declarações curiosas, os quais, na maioria, ignoraram a dimensão internacional do evento, valorizando, pelo contrário, o sentimento provinciano que contagia uma grande parte da população desde a época de Eça de Queiroz:

Catarina Furtado e José Carlos Malato – Registei que ambos declararam, em público “o seu amor pela Natureza e pelos 21 Monumentos Naturais” em competição.

Jorge Costa – Sócio da PriceWaterCoopers, responsável pela auditoria – Sou testemunha das 656 mil declarações de amor dos portugueses à Natureza.

Jorge Romeira – presidente do município de São Vicente, da Madeira – O mundo científico reconheceu a Floresta Laurissilva como Património da Humanidade. Agora deu-se o reconhecimento popular.

Humberto Rosa – secretário de Estado do Ambiente – Os nossos parques naturais estão bem, pois recuperam depressa dos fogos florestais...

Jorge Alamo, deputado estadual de Massachusetts, natural do Pico – Obrigado Pico!

Nunes Correia – ex-ministro do Ambiente – O Algarve não é só praias e discotecas cheias. Também tem incalculáveis valores da Natureza.

Rosa Mota – antiga atleta campeã olímpica e madrinha do Parque Nacional da Peneda-Gerês – Obrigado por me permitirem regressar à competição e à vitória.

Carlos César – presidente do Governo Regional dos Açores – Obrigado pela nota máxima: duas vitórias para os Açores: A Lagoa das Sete Cidades e a Paisagem Vulcânica do Pico. Portugal inteiro vai beneficiar, nos mercados do Turismo, da mais-valia destas duas Maravilhas Açorianas da Natureza , que acrescentarão mais valor, mais beleza, mais projecção e mais memória global.

PRÓXIMAS MARAVILHAS
Fernando Segadães – responsável da organização – Adianto que o ciclo das Maravilhas de Portugal vai continuar com um nova iniciativa: eleger as Sete Âncoras da Identidade dos Portugueses, entre outros para destacar e honrar o talento na música, espectáculo, ciência, engenharia, arquitectura, medicina, artes plásticas, vinicultura, etc. Os campeões do talento português! Na próxima década.
Que seja tudo a favor da subida coerente da nossa auto-estima colectiva!
Estou já a antecipar a concorrência entre o Fado, Vira, Fandango, Malhão e Corridinho; ou entre as Torres das Amoreiras, do Colombo e o Estádio de Braga. Ou, ainda entre o verde Alvarinho, e os vinhos tintos do Douro, Dão, Beiras, Bairrada. Oeste, Lisboa, Palmela e Alentejo, mas quem sabe se o vinho do Algarve e do Pico também não concorrem? E os brancos da Vidigueira e os espumosos da Bairrada? Uma coisa é certa, o que este País precisa é de mais concorrência e excelência!É por isso que eu escrevo!

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